Sábado é o Dia Nacional da Cardiopatia Congênita, que atinge 29 mil crianças por ano; adultos são vítimas também

Na apresentação grave da doença após o nascimento, ela pode ser responsável por 30% dos óbitos no período neonatal

O próximo sábado, 12 de junho, é o Dia Nacional de Conscientização da Cardiopatia Congênita, como são conhecidas as anormalidades no coração com as quais quase 29 mil crianças nascem todos os anos no Brasil. Destas, cerca de 1.800 morrem antes de completar um ano de vida, de acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia. Na apresentação grave da doença após o nascimento, ela pode ser responsável por 30% dos óbitos no período neonatal.
O diagnóstico precoce da cardiopatia congênita, portanto, é o fator mais importante e eficaz de evitar o comprometimento da saúde e, em muitos casos, a morte, ressalta a cardiologista pediátrica Danielle Dantas, do Instituto de Moléstias Cardiovasculares – IMC, de São José do Rio Preto. O IMC é um dos centros de referência no interior paulista para o diagnóstico e tratamento desta e de outras doenças do coração.
Estas anormalidades na estrutura do aparelho cardiocirculatório causam insuficiência circulatória e respiratória, o que pode comprometer a qualidade de vida do paciente.
Os sinais da possível existência de cardiopatia congênita são evidentes. O bebê, esgotado, fatigado, interrompe a amamentação. A criança sente-se cansada, falta de ar ao menor esforço físico, quando brinca.
“O cansaço, a dificuldade de respirar, o coração acelerado, pneumonias repetidas, cor arroxeada dos lábios e unhas, dificuldade de ganhar peso são alguns dos sintomas de uma enfermidade que os responsáveis e familiares dificilmente imaginam: a doença no coração. E milhares delas já nascem com o problema”, ressalta Danielle.
As cardiopatias congênitas são a terceira principal causa de mortalidade infantil e, por não serem evitáveis, o diagnóstico e o tratamento precoces podem, na maioria dos casos, curar ou controlar a doença.
As causas são multifatoriais, desde doenças maternas, medicações, síndromes genéticas, infecções na gravidez e, em muitos casos, fica difícil saber exatamente o que alterou o desenvolvimento normal do coração e causou a doença.

Cardiopatia congênita é risco também para os adultos

Por ser uma anomalia com a qual a pessoa nasce, a cardiopatia congênita é muito associada ao bebê e à criança, mas ela também é um problema que atinge os adultos, alerta Dr. Dárcio Faria, cardiologista intervencionista do Instituto de Moléstias Cardiovasculares – IMC. “Muitas pessoas nascem com problema no coração e atingem a fase adulta sem saber da sua existência. Elas só descobrem muitas vezes quando sofrem alguma complicação e procuram o médico”, explica Dr. Dárcio.
É o que ocorre com frequência no IMC, onde o cardiologista intervencionista faz o diagnóstico de cardiopatia congênita em adultos sem que estes imaginem ter. “É mais um motivo para que as pessoas façam suas consultas médicas periódicas desde crianças”, destaca Dr. Dárcio, citando entre as potenciais complicações causadas pela cardiopatia congênita a arritmia, insuficiência cardíaca, hipertensão pulmonar, endocardite, eventos tromboembólicos, entre outras.
Nos adultos, os sintomas mais comuns desta anomalia são falta de ar, cansaço fácil, coração acelerado e infecções respiratórias frequentes. Também podem ser observadas alterações no tamanho do coração, confirmado através de um exame de raios x e do ecocardiograma.
As doenças cardíacas congênitas se dividem em dois tipos clínicos: as cianogênicas (que deixam a criança com cianose) e as acianogênicas (em que predominam os sintomas de cansaço).

Entre os tipos de anomalias mais comuns estão:

Comunicação Interventricular (CIV)

É um defeito na parede que divide os ventrículos, câmaras que bombeiam o sangue. A parede não se forma adequadamente e deixa uma comunicação, o famoso “buraco” no coração. O sangue, ao passar pela abertura, gera o sopro cardíaco, auscultado durante a consulta. Essa é a principal cardiopatia sem cianose e deixa o pulmão repleto de sangue, o que explica os sintomas.
Na ocorrência deles, são realizados exames como radiografia de tórax, ecocardiograma e eletrocardiograma para avaliar a necessidade de tratamento cirúrgico. Há situações em que a abertura é pequena e a cirurgia, desnecessária.

Sintomas

cansaço rapidamente;
respiração acelerada e falta de ar;
pneumonias repetidas;
dificuldade para se alimentar e ganhar peso.

Coarctação de Aorta (CoAo)

Caracteriza-se por um estreitamento da aorta, como um “cano entupido” que dificulta o transporte do sangue e sobrecarrega o coração. O médico diagnostica a coarctação de aorta avaliando alterações do pulso e diferença de pressão arterial nos membros inferiores e superiores. Para confirmar, ecocardiograma e angiotomografia ou angioressonância. O tratamento pode ser cirúrgico ou por cateterismo cardíaco.

Sintomas

dor de cabeça (geralmente devido à pressão alta);
fadiga e fraqueza nas pernas;
dor torácica;
nos bebês, os sintomas podem ser semelhantes aos de CIV.

Transposição das grandes artérias (TGA) e Tetralogia de Fallot (T4F)

São as duas principais causas de cardiopatia que geram cianose (criança roxa e com oxigenação baixa). A primeira manifesta-se no recém-nascido, enquanto a segunda pode ser diagnosticada mais tardiamente. A criança pode ter cansaço, desmaios e apresentar os lábios e pontas dos dedos roxos. São defeitos que necessitam de intervenção cirúrgica, após confirmação diagnóstica. O bebê com TGA deve ser operado nos primeiros dias de vida, enquanto o portador de T4F pode esperar em torno de um ano.

Sintomas

pele azulada no bebê (cianose);
dificuldade para respirar;
cansaço;
desmaios ou crises convulsivas.
“O mais importante no manejo das doenças cardíacas é o diagnóstico precoce, permitindo o tratamento adequado, com melhora da qualidade de vida do pequeno paciente”, finaliza a cardiopediatra do IMC.