Especial Mirassol 111 anos: a origem do nome “Gruta”

O Parque Natural Municipal da Grota de Mirassol, popularmente conhecido como gruta, sempre foi muito produtivo, famoso e orgulho de todo mirassolense. Em especial ao aniversário de 111 anos da cidade, a equipe do MC resgatou a matéria sobre a origem do nome “Gruta”, que apesar de não se chamar mais assim oficialmente, é popularmente conhecida por esse nome. Confira:

O primeiro morador da área da gruta tinha na época um pequeno cafezal plantado e deixado mais de 35 anos sem cuidados. Quando reativado, esse cafezal produziu 60 sacos de 100 litros por cada mil pés de café. Outro morador fez a sua casa de sapé, transportando tudo em um carro, puxado por bodes. Ele tirava água da nascente da gruta com três minas de água e levava até a cidade.

Sobre a origem do nome gruta, antigos moradores de Mirassol comentam que quando a área ainda pertencia a Joaquim da Costa Penha, fundador deste município, um grupo de ciganos teria alcançado uma graça no local. Após alguns meses, ao levantarem acampamento, como forma de agradecimento deixaram uma santa e perto dela eles amontoaram várias pedras, formando uma caverninha, que ficava próxima à atual bica de água, porém de difícil acesso, com mais de 1,80 m de altura, em um estreito caminho, que passava rente à água do tanque. Transeuntes e colonos que bebiam água passaram então a orarem e se benzerem nesse local, chamando-o gruta, por causa da caverna onde ficava a santa. O termo grota, por sua vez, significa vale profundo.

Alguns católicos desta época se sentiram incomodados, talvez por acharem que esta santa não fosse católica, já que ela tinha os braços bem longos e a pele escura. O fato chegou até a igreja, o que levou alguns padres a confirmarem que a santa era de origem católica. Acredita-se que se tratava da Virgem Sara, rainha e padroeira dos ciganos no mundo todo. Mas, por desconhecimento, chamaram a santa de Nossa Senhora de Lourdes. Os jornais, revistas e rádios na época noticiavam sobre o santuário e os milagres da bica d´água da gruta.

Grota de Mirassol (Foto por Natália Campanholo)

Tempos depois, além da santa, a gruta teve outro defensor, conhecido por todos da cidade, Benedito Camargo, o conhecido Ditão da Gruta. Ele tinha 2 metros de altura e era uma espécie de protetor da natureza.

Nos finais de semana, o espaço da gruta era alugado. Lá existia um tanque para natação, onde contam que, por farra, existiam sempre os que queriam nadar sem pagar. Já nesta época ele colocava placas de advertência para não mexerem nas plantas. Ele adorava mostrar sua cultura lendo muito e querendo falar difícil, porém, erroneamente, às vezes. Ele também adorava andar de branco e se autointitulava Dr. Benedito; se dizia comunista e à noite sua casa servia como refúgio de subversivos, que se reuniam à luz de vela, não só mirassolenses, como também membros de toda nossa região.

Foto da construção da estrada que liga a cidade ao barracão da Grota (Divulgação)

Assim, em determinada época, devido ao fato de ele ter que levar água para sua casa, em duas latas de 20 litros, muitas pessoas que passavam por lá queriam beber desta água, e devido ao partido necessitar de recursos, foi sugerido a Ditão, por donos de bares, que vendesse a água da gruta. Ditão passou a fornecer a 1 tostão o litro de água para uma determinada freguesia. E assim, mais e mais água foi vendida a cada dia, chegando ao ponto dele ter que arrumar uma carroça para buscar a água. Ele vinha gritando: “Olha a água gostosa e fresquinha, direto da bica da gruta”.

Com isso, ele popularizou ainda mais o termo “gruta”. Alguns ex-comunistas, mais tarde, relataram que a venda da água funcionava como uma senha para os comunistas que não o conheciam Ditão receberem informações ou até mesmo o seguirem até sua sede ou a sua residência na gruta.

Na gestão de Elias Thomé foi facilitada a vinda do asfalto, a energia elétrica e luminária à gruta e foi introduzido esse termo, “gruta”, nos mapas turísticos do estado de São Paulo. Assim, vários turistas, incluindo estrangeiros, vinham a Mirassol pensando ter aqui uma caverna. Somente anos mais tarde a prefeitura corrigiu esta falha e retirou definitivamente o nome dos mapas e guias turísticos.

Ainda nos dias de hoje é muito comum ouvir comentários dos milagres da gruta, do aparecimento de Nossa Sra. de Lourdes, da água límpida da bica, de um musgo raro que lá existe e de outros acontecimentos envolvendo o local.

Entrada da Grota de Mirassol atualmente (foto: divulgação/Prefeitura de Mirassol)

 

     Reportagem publicada originalmente em 2012 e atualizada em 2021 
Fonte: Departamento de Cultura de Mirassol