Familiares e um grupo de moradores estão se mobilizando para realizar às 14 horas deste domingo (30) um protesto em frente à Delegacia de Polícia, após uma denúncia de estupro de vulnerável terminar com o autor que teria confessado o crime solto.
A ocorrência foi registrada na tarde de ontem (29), na unidade policial, porém como não se enquadrou em flagrante delito o responsável não ficou detido, apenas foi ouvido e liberado em seguida. O delegado que estava de plantão, Dr. Alexandre Del Nero Arid, não estava presente no momento em que foi registrado o BO.
O crime estava acontecendo dentro da própria casa da vítima, uma menina de sete anos de idade que vinha sendo estuprada pelo padrasto, de 31 anos, há pelo menos quatro meses, e foi descoberto pela mãe da criança.
De acordo com o depoimento prestado pela mulher, na madrugada de sábado ela pegou o celular do companheiro, com quem convivia há quatro anos e tinha outros dois filhos – uma menina de dois anos e um menino de três meses – para utilizar e passando pela galeria de fotos encontrou vários vídeos de relações sexuais entre ela e o convivente sem que ela tivesse autorizado. Diante disso, ela passou a ver todo o conteúdo do celular, encontrando uma foto de abuso sexual, notando pelo tamanho das mãos que se tratava de sua filha.
Sem chão, a mulher foi conversar com a criança, que a princípio negou ser a pessoa da foto, porém ela conseguiu ganhar a confiança da menina, que depois falou que era ela e o padrasto. Após a confirmação, a mulher colocou o celular no lugar onde havia pegado para que o homem não desconfiasse de nada e entrou em contato com uma amiga, que é madrinha da vítima e que lhe ajudou a prosseguir com a denúncia.
Pela manhã, a criança foi levada para a casa de familiares e a polícia militar foi acionada para atender a ocorrência. A denunciante mostrou a foto que havia encontrado para os policiais, relatando ter tomado conhecimento do estupro durante a madrugada.
O homem estava no local no momento da chegada dos policiais e confessou o crime, afirmando que os atos começaram a acontecer desde o mês de abril, narrando de forma que desse a entender que a criança tivesse “procurado por ele”. Após o ocorrido, todos se dirigiram à delegacia para serem ouvidos, o Conselho Tutelar também foi acionado.
Em depoimento na delegacia, o padrasto confessou que cometia os estupros constantemente, “achando que começou em abril, pois a criança lhe procurava”. Ele confessou que os estupros aconteciam dentro da própria casa, enquanto a mãe estava na cozinha ou tomando banho. Questionado, ele não soube dizer quantas vezes os estupros aconteceram e que acha que a mãe não tinha conhecimento dos abusos, “mas sabia que a filha dela vivia atrás dele”, culpabilizando a vítima.
A criança estava presente não foi ouvida devido à proibição por ser menor de idade e por se tratar de crime de estupro de vulnerável. A vítima foi encaminhada para o Hospital da Criança e Maternidade, onde passou por exames.
O homem foi liberado após ser ouvido, o celular com as imagens foi apreendido. A ocorrência foi registrada como estupro de vulnerável.
A mãe da menina está totalmente abalada com a situação, ela irá se separar do homem e também contou em depoimento que era agredida por ele, que chegou a lhe desfigurar o rosto durante uma agressão que ocorreu neste ano, mas que não foi denunciada por ela. A madrinha da vítima narrou em depoimento que no ano passado tanto a mãe quanto a filha foram agredidas pelo autor do crime, que à época chegou a ser denunciado ao Conselho Tutelar.
O Mirassol Conectada deve entrar em contato com a Delegacia de Polícia de Mirassol na segunda-feira, 31 de agosto, e trazer mais detalhes sobre a situação.
Familiares relatam descaso com a situação
Os familiares relataram que foram tratados com descaso frente à delicada situação. Mesmo acompanhada de três crianças pequenas, a mãe precisou aguardar por atendimento do lado de fora da delegacia, a vítima também estava no local, ela ficou sentada na escadaria do prédio e segurava contra o peito uma boneca.
Os envolvidos pedem por justiça, lamentam pela falta de estrutura da Delegacia Policial e pelo fato de o delegado não estar presente no momento da ocorrência. Todos temem que o autor do estupro saia da cidade antes de ser julgado e que acabe vitimando outras crianças. Por isso, familiares utilizaram as redes sociais para divulgar o ocorrido, conseguindo mobilizar diversas pessoas, que se sensibilizaram com a notícia e vão para a frente do prédio reivindicar providências diante da seriedade dos acontecimentos.
Nos últimos dias, uma luz foi acesa sobre os casos de estupro de vulnerável que acontecem no Brasil, a maioria dentro das casas das próprias vítimas. O assunto entrou em discussão após o caso de uma menina de 10 anos ganhar repercussão nacional, ela era estuprada pelo tio há quatro anos e ficou grávida, tento que lidar, além do trauma do crime, com o julgamento de um grupo de pessoas que a chamaram de assassina por precisar ser submetida a um aborto.
A jornalista Julia Caputi esteve na delegacia acompanhando a ocorrência, em conversa com as conselheiras tutelares de Mirassol que estavam no local ela apurou que este é segundo caso de estupro de vulnerável atendido na cidade em menos de duas semanas.
O Instituto Sou da Paz lançou neste mês de agosto uma edição do Índice de Exposição a Crimes Violentos (IECV), que mede a exposição à violência nas cidades do estado de São Paulo com população superior a 50 mil habitantes. Mirassol aparece na lista com um IECV geral de 3,78 na posição 57. O índice que mede crimes contra a dignidade sexual (estupro) aqui na cidade é o maior dos três eixos avaliados, atingindo 9,55. Considerando só esse tipo de crime, apenas outras 15 cidades da lista possuem um índice pior do que Mirassol nessa categoria.
Texto feito juntamente com a jornalista Julia Caputi, que acompanhou a ocorrência