Por: Adriano Nascimento
Desde a quebra de contrato com a Waga, empresa responsável pela Área Azul em Mirassol, a população tem sofrido com a superlotação de veículos e a consequente escassez de vagas para estacionar na região central da cidade. Mas será que os problemas de mobilidade urbana em Mirassol se resumem ao centro da cidade?
Bem, antes de mais nada, é preciso destacar que este é o exemplo perfeito de como é perigoso entregar serviços públicos essenciais para empresas privadas. Quando o interesse privado deixa de existir a responsabilidade social sai de cena.
Segundo dados de 2020 do DENATRAN (Departamento Nacional de Trânsito), Mirassol possui uma frota de mais de 45.800 veículos, sendo que aproximadamente 25 mil são carros.
Em 20 anos, houve aumento de 209% da frota da cidade e esta acentuada elevação no número de veículos no município, juntamente com a falta de investimentos em melhorias estruturais e descentralização da cidade, causam transtornos na mobilidade urbana como um todo.
O crescimento populacional e a expansão da cidade sem planejamento, dificultou o deslocamento da população pelas áreas urbanas. Os congestionamentos em cruzamentos da linha ferrea, nas avenidas e nas entradas da cidade, são um transtorno para todos os trabalhadores e trabalhadoras de Mirassol. Isso ocorre também por razões sociais e economicas, uma vez que a organização socioespacial e territorial do municipio está relacionada as classes e as relações sociais.
A falta de variedade e incentivo a utilização de outros modais de transporte, que não seja o carro, também torna toda essa situação muito mais difícil de ser resolvida. Hoje, quem usa o precário transporte público disponível ou a bicicleta, por exemplo, o faz por necessidade e não por opção. Vale destacar que não contamos com ciclofaixas, ciclovias ou ciclorrotas no munícipio.
A descentralização urbana é uma necessidade de primeira hora em Mirassol para que o direito ao acesso à cidade e seus serviços básicos como educação, trabalho, saúde, lazer e cultura, sejam garantidos para toda população, e para que também, o centro da cidade seja descongestionado.
A retomada do serviço de estacionamento rotativo em Mirassol é importante para o comércio local e para o fluxo de veículos na região central, mas está longe de ser o suficiente para a melhoria da qualidade da mobilidade urbana na cidade. Os desafios vão muito além da área azul e é preciso que haja comprometimento e profundos estudos para o devido uso e ocupação do solo. Reformas e obras de infraestrutura, devem projetar uma expansão urbana responsável, que fuja da especulação imobiliária e que atenda as necessidades da população em primeiro lugar.
Adriano Nascimento é Professor, graduando em Gestão Pública, pós graduando em Gestão de Cidades e Planejamento Urbano, colunista político colaborativo do Mirassol Conectada e ativista dos Direitos Humanos certificado pela Anistia Internacional.