Em 1939, o casal de psicólogos Kenneth Clark e Mamie Phipps Clark conduziu um experimento diferente, chamado “Teste da Boneca”. Ele consistia na exibição de duas bonecas, uma branca e outra negra, para algumas crianças, que eram dividas em dois grupos: o das crianças brancas e o das crianças negras. Pedia-se à criança participante que atribuísse determinadas características às bonecas: bonita, feia, boa, má, etc. O que mais tocou nos resultados foi a constatação de que a maioria das crianças, tanto as brancas como as negras, escolheram a boneca branca como a bonita e boa, enquanto a boneca negra era descrita como feia e má.
Uma criança branca atribuir qualificações positivas à boneca parecida com ela mesma não causa espanto, isso era o esperado. Mas porque as crianças negras, nos experimentos, não faziam o mesmo com a boneca negra? Se as próprias crianças negras elegem a boneca branca como modelo estético e moral superior, o que isso nos fala?
Isso nos fala de uma violência. O racismo tem por princípio organizar o valor e a capacidade do que se chamou de “raças” para determinadas aptidões, tratando alguns como inferiores por motivo de dominação. Criou-se uma ideologia da dominação, e embora a ciência reconheça que não há diferenças que justifiquem dividir humanos dessa forma, a desigualdade vem sendo construída de longa data, social e historicamente, a partir dessa ideia.
Infelizmente a discriminação racial não está limitada a comentários vergonhosos que escapam vez ou outra, como aconteceu com o jornalista global. Ela não se limita ao nível simbólico, do discurso, mas se mostra principalmente por toda a estrutura material e social. Basta fazer uma busca na internet por “greve dos médicos” e depois outra por “greve dos garis”, e comparar as imagens que aparecerão.
O preconceito racial gera efeitos psicossociais. No nível concreto, haverá dificuldade da população negra em acessar os equipamentos sociais de toda ordem, o que os coloca em desvantagem social, econômica e política. Afeta também a constituição desse sujeito na ordem simbólica, pois nesse plano, ele é sempre negado. Na escola, a criança negra aprende seu desvalor, pelos estereótipos que circulam ou pela falta de informações sobre seus ancestrais. Isso coloca o sujeito em um não-lugar, no lugar do destituído.
Esses fatores, somados, são ingredientes para a construção de uma subjetividade forjada ora no medo, ora na negação de sua origem. Isso gera o que Kurt Lewin, psicólogo social, chamou de “ódio a si mesmo”, ou seja, quando uma criança começa a perceber, desde muito cedo e de forma inconsciente, que o simples fato de ser negra irá privá-la do acesso a muitas coisas, que suas chances de mobilidade social serão muito menores, o seu grupo, a sua história e a sua origem passa a ser depreciada. A ideia sobre si mesmo, um dos fundamentos da subjetividade, acaba sendo construída no ideal do outro, do branco.
Outros experimentos desse tipo foram realizados. Em 2006, a cineasta norte-americana Davis Kiri realizou o teste, e obteve os mesmo resultados, deixando evidente que o racismo continua forte. Para assistir a um destes testes, clique no link: https://www.youtube.com/watch?v=TY_rdxvhffM