No final dos anos 60 e início dos anos 70 o comércio de Mirassol estava em pleno funcionamento, a cidade vivia os seus anos dourados. Além de ser famosa devido à produção de café e a indústria moveleira, também recebia turistas que vinham de diversos lugares para conhecer o Cine Theatro São Pedro, a Festa São Pedro e a Grota.
Foi diante desse cenário que Florentino Galves Dias vislumbrou a possibilidade de montar o seu próprio negócio na cidade e a partir de aí dar um novo rumo a sua vida. Ele trabalhou para que o sonho se tornasse realidade, e no ano de 1969, aos 30 anos de idade, saiu de São José do Rio Preto, juntamente com a sua esposa Umbelina Sanchez Galves, que tinha 25 anos, e seu filho mais velho, José Miguel, à época com 2 anos, sem a intenção de voltar.
No dia 15 de julho do mesmo ano, Florentino fundou no município a sua própria empresa, a “Ótica Mirassol”. O negócio iniciou de forma modesta, em uma portinha localizada na rua Marechal Deodoro da Fonseca, no centro da cidade. Florentino, juntamente com mais um funcionário, iniciou o atendimento ao público, levando aos seus clientes todo o profissionalismo e conhecimento que trazia consigo na bagagem.
Apesar de novato no mundo dos negócios, o homem escolheu uma área que conhecia bem, pode se dizer que o mundo ótico é a vida de Florentino. Ele foi para o mercado de trabalho muito cedo por necessidade, acabou conhecendo a área e nunca mais quis fazer outra coisa. De origem muito pobre, o homem perdeu o pai logo cedo, a mãe ficou sozinha e precisou cuidar de quatro filhos, o que fez com que ele tivesse que começar a trabalhar ainda criança, aos 11 anos.
Por coincidência ou destino, ele acabou indo trabalhar em uma ótica que ficava em Rio Preto, ele fazia de tudo um pouco, começou como faxineiro, depois cobranças e serviços de banco até chegar ao laboratório. Aos 16 anos, ele se tornou um profissional do ramo e aos 20 anos já era formado na área. Durante o período que morou em Rio Preto sempre trabalhou em Ótica, adquiriu conhecimento e experiência, juntou dinheiro para casar e também para investir em seu negócio.
“Fui aprendendo né e eu aprendi muito rápido porque é uma profissão que eu gostei, eu caí em uma profissão que eu gostei. Aos 16 anos eu já era um profissional de ótica, eu me formei em 59, faz 60 anos. Eu procurei estudar, me formei e o objetivo era montar a minha ótica, lógico. Desde quando eu me propus a trabalhar na ótica eu senti que eu gostava e que eu ia ser dono da minha”, conta.
Pouco tempo depois de inaugurar a Ótica Mirassol, Tino – como é chamado pelos amigos, queria ver o seu negócio prosperar. Ele acompanhou a construção do Edifício Iracema, que fica na rua São Pedro, naquele local ele viu uma nova possibilidade, já que o prédio ficava defronte a um consultório médico, onde atendiam diversas especialidades, inclusive oftalmologista.
Para ficar mais próxima de seu público, a Ótica Mirassol mudou de endereço em 1970, passando a atender em frente ao consultório médico. A empresa foi ganhando notoriedade no mercado e conquistando clientes fiéis, não somente de Mirassol, mas também de cidades da região como General Salgado, Nhandeara e Bálsamo, alguns dos quais continuam clientes do espaço até os dias de hoje.
Em 1973, Florentino comprou uma sede própria, no prédio Iracema, local onde funciona até os dias de hoje. Pessoas conhecidas na cidade participaram da inauguração. Quem cortou a fita foi a mulher que leva o nome do edifício – Iracema Pinto. Ela é mãe do médico Jair Pinto, ginecologista conhecido em Mirassol. Também estavam presentes o então prefeito municipal Leopoldo Gotardi e o padre Próspero, além de familiares e amigos.
Conquistando a clientela
Aos finais de semana, Florentino saia com a família pela região, distribuindo panfletos e fazendo um trabalho de boca a boca para divulgar a empresa, já que não eram todas as cidades que tinham um comércio desenvolvido como é como atualmente. Neste período, a Ótica chegava a vender 30 óculos por dia, ele lembra que a produção era um pouco complicada, pois as lentes eram produzidas em materiais como vidro e cristal e por isso demandavam mais tempo para ficar prontas. Para atender a demanda, tinham dias que a Ótica funcionava até às 11 da noite.
O trabalho no comércio rendeu a Florentino muitas amizades, ele e sua esposa, que sempre esteve ao seu lado, se tornaram cada vez mais íntimos de Mirassol. Os filhos do casal são mirassolenses e continuam morando na cidade até hoje. Tino também tinha influência, ele foi por três vezes presidente da Associação Comercial de Mirassol e em todas elas brigou quando foi preciso e lutou para fomentar o comércio.
Com o crescimento e desenvolvimento do município, muitas empresas do mesmo ramo começaram a se instalar por aqui, algumas até filiais de grandes marcas, mas Florentino disse que jamais se abalou com isso. Para ele, desistir de atuar na área nunca foi uma opção. O empresário sempre apostou no atendimento de qualidade ao cliente e até os dias de hoje busca oferecer tudo o que há de mais atual no mercado.
“O mundo da ótica evoluiu bastante e nós evoluímos juntos, fomos trocando nossos equipamentos e acompanhando as novidades, hoje o que usam lá em Paris tem que ter aqui em Mirassol”, complementa.
Muitos funcionários do empresário se inspiraram nele e em sua história e acabaram montando a própria empresa, inclusive dois de seus filhos. José Miguel, o mais velho, 52 anos, montou a própria loja – a Óptica Modelo e Silmara Galves, 47 anos, atualmente é quem administra a Mirassol. Ele tem mais dois filhos, Marcos Roberto, 49 anos, que é advogado e Fábio Galves, 43, que é corretor de imóveis.
“Agora que aposentei eu venho na loja, faço alguma coisinha, serviço de office boy, dou uma olhada na parte técnica, mas só acompanho mesmo. A ótica tá aqui, firme, graças a Deus, a Silmara está continuando o trabalho, conhece o ramo e o setor e ela vai dar continuidade ao trabalho. Aqui dentro todo mundo é competente, por isso que nós estamos aqui. Daqui da minha ótica saíram técnicos bons, o Jesus tem ótica em Novo Horizonte, o Albertinho em Ibitinga, o Carlinho em Potirendaba, o meu irmão Nelson Galvez (In Memoriam)/sobrinho (Marcelo Galvez) tinha em Rio Preto.”
Florentino completou 80 anos de idade no dia 20 de junho, somente no ramo ótico são 60 anos e frente à Ótica Mirassol são 50 anos que se completam neste mês de julho. Florentino Galves Dias é a pessoa por trás do negócio, ele veio de mala e cuia, nunca pensou em sair da cidade e aqui construiu a sua história entrelaçada com a da Ótica Mirassol.
Atualmente, a empresa opera com quatro funcionários e oferece ao público armações, óculos de sol e de grau, lentes graduadas e lentes solares. O endereço é rua São Pedro, 2148, centro. Para informações ligue (17) 3242-1038.
Fomos até a Ótica Mirassol para um bate-papo com Florentino. Confira:
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Conte um pouco sobre a história do senhor e sobre como entrou para essa área:
Eu entrei na ótica muito jovem, não tinham muitos profissionais na área. Eu sou de Rio Preto, eu sou de uma família muito pobre, o meu pai morreu nós éramos em quatro filhos, todos pequenos, então nós tivemos que partir para o trabalho logo cedo. Eu comecei a trabalhar em ótica aos 11 anos, quando eu me aposentei eu tinha 43 anos de contribuição. Eu tive que procurar serviço e fui parar na ótica, comecei como faxineiro e serviços de office boy, fazia entrega, cobrança, serviço de banco, limpeza, tudo. Aí depois eu fui entrando em laboratório, fui aprendendo né e eu aprendi muito rápido porque é uma profissão que eu gostei, eu caí em uma profissão que eu gostei. Aos 16 anos eu já era um profissional de ótica, eu me formei em 59, faz 60 anos.
Eu procurei estudar, me formei e o objetivo era montar minha ótica, lógico. Desde quando eu me propus a trabalhar na ótica eu senti que gostava e que eu ia ser dono da minha. Eu montei a minha ótica em Mirassol por ética, em respeito ao meu patrão e meus colegas de Rio Preto. Mas eu vim para Mirassol contra o gosto de todo mundo, ninguém queria que eu saísse e viesse.
Onde tudo começou?
Nos anos 60 e 70 Mirassol corria dinheiro pra caramba, né, o movimento de café muito grande e Mirassol era a capital dos móveis. Tinha emprego, tinha bastante indústria, o comércio era grande, era forte. A minha ótica começou na rua Marechal Deodoro, no dia 15 de julho de 1969, lá era alugado. O prédio onde a Ótica funciona hoje estava sendo construído e em frente funcionava a clínica São Jorge, tinham seis médicos que atendiam de diversas especialidades, um deles era oftalmologista, que era o Dr. Damasceno. E é lógico, uma ótica tem que estar perto de um oftalmologista e com pouco tempo, em menos de um ano eu mudei para cá, o ano era 1970, aqui no início também era alugado.
Nessa época aí, Mirassol era referência na área da saúde, a Santa Casa tinha um serviço de cardiologia espetacular. Eu abria a minha ótica às 7 horas, porque todo mundo desse sertão vinha se tratar aqui [na cidade]. A sala de espera [do consultório que funcionava em frente a Ótica] não era suficiente, a calçada ficava lotada de gente e eles atendiam o dia inteiro. Então eu tinha que estar aqui, você pode achar incrível, nós tivemos dia aqui de vender 30 óculos, isso é um número absurdo para uma ótica porque naquele tempo vender era fácil, o duro era fazer. Era muito difícil, as máquinas eram muito rudimentares, tinha que fazer na mão, as lentes eram de vidro, de cristal. Hoje não, as lentes são de resina, nós temos uma máquina que monta uma lente em 5 minutos. As armações já vinham prontas e escolher era muito mais fácil, as opções eram cinza, marrom ou preto.
Ficamos aqui por causa do oftalmologista e nós trabalhamos, tinha dia que nós trabalhávamos até às 11 horas, meia noite para dar conta das encomendas, nós éramos aqui em oito funcionários.
Como era a clientela no início? Como o senhor foi conquistando novos clientes?
Nós tínhamos esse atendimento muito pessoal, quem vinha de fora era de General Salgado, Nhandeara, Monte Aprazível. Neste tempo essas cidades não tinham ótica, nesse tempo onde tinha ótica era Rio Preto e Mirassol, então nós corríamos essas cidades vizinhas fazendo propaganda aos fins de semana, nós saíamos para a cidade distribuindo folhetos, conversando com o pessoal, voltava aqui de domingo à noite. Existe cliente ainda que vem aqui que é de General Salgado e outras cidades da região.
O que o senhor sente quando pensa em Mirassol?
A Ótica entrou no contexto de Mirassol e eu me entrosei tanto aqui que todos os meus filhos nasceram aqui. E todos eles estão aqui, trabalhando aqui. A Silmara trabalha comigo já faz muito tempo, o Miguel, o meu filho mais velho, tem a Ótica Modelo, o Marquinho é advogado e o Fábio corretor de imóveis.
Sobre a vinda minha para Mirassol, eu vim para cá de mala e cuia, sem olhar para trás, eu vim para ficar, já transferi o meu título e vim para ficar. Eu já era casado, me casei em 1964, já tinha cinco anos de casado quando eu vim para cá. A minha mulher me ajudou muito, porque nós tivemos que fazer muitos sacrifícios.
O senhor incentivou seus filhos para que eles seguissem o mesmo caminho que o seu?
Eu queria que os meus filhos fossem funcionários, fizessem um bom estudo. Naquele tempo, o colégio Anísio José Moreira era famosíssimo, quem queria entrar na faculdade na região vinha estudar aqui, um colégio de alto conceito. O José Miguel, meu filho mais velho, eu queria que ele fizesse concurso pra Secretaria da Fazenda, não queria que os meus filhos sofressem como eu. O José Miguel é formado em contabilidade, ciências contábeis e administração de empresas. O que ele fez? Foi para trás do balcão e é comerciante (proprietário da Óptica Modelo).
O Marquinho quis fazer direito e é realmente o ramo que ele gosta, ele é um advogado excelente, todo mundo, não eu, mas as pessoas que conhecem falam que ele é um ótimo advogado, porque ele gosta do direito, por isso que ele é bom. Quando você faz alguma coisa que você gosta, você faz melhor. Eu por exemplo nunca forcei os meus filhos a ser qualquer coisa, eu sempre dou opinião. A Silmara se formou em geografia em Monte Aprazível, ela é professora, ela fez mestrado, fez um monte de especializações. Chegou na hora de dar aula, cadê o emprego? Não tem. Aí eu falei pra ela ficar aqui na Ótica comigo e hoje é ela que está tocando. Já o Fábio, o meu filho mais novo, é corretor de imóveis, ele gosta, é o que gosta de fazer. Já os netos estão formando, todos estudando.
E sobre Mirassol, o que o senhor pensa em relação ao futuro?
Penso que a cidade precisa despertar a atenção regional, outras cidades como Fernandópolis, Votuporanga, Jales procuram explorar o turismo, a cidade de Olímpia, por exemplo, vive disso. O turismo em Olímpia dá mais de 15 mil empregos, por aí você vê que vale a pena explorar.
Como foi montar a Ótica Mirassol, o senhor passou por alguma dificuldade que o fez pensar em desistir?
Durante o tempo que eu trabalhei em Rio Preto como empregado eu ganhei bem, não posso reclamar, tanto é que eu guardei dinheiro para casar e para abrir a minha ótica. Eu vim pra cá eu abri minha ótica completa, com equipamentos que se usava na época, sem dever nada pra ninguém e a coisa rolou, mas deu muito trabalho. Nunca pensei em desistir, eu já sabia que eu ia encontrar muita dificuldade, isso é normal, nós lutamos, a minha esposa ajudando, nós fomos em frente e é difícil, concordo, mas nunca, em momento nenhum, eu pensei em parar. Porque eu saí de uma família muito pobre, eu morava na Vila Anchieta (Rio Preto), uma miséria danada e eu jurei que ia sair disso aí e saí, não fiquei rico, mas teve uma época que eu tive três filhos na faculdade e você imagina…
Conte um pouco sobre a sua visão sobre a Ótica Mirassol
O mundo da ótica evoluiu bastante e nós evoluímos juntos, fomos trocando nossos equipamentos e acompanhando as novidades, hoje o que usam lá em Paris tem que ter aqui em Mirassol. Agora que aposentei eu venho na loja, faço alguma coisinha, serviço de office boy, dou uma olhada na parte técnica, mas só acompanho mesmo. A ótica tá aqui, firme, graças a Deus, a Silmara está continuando o trabalho, conhece o ramo e o setor e ela vai dar continuidade ao trabalho. Aqui dentro todo mundo é competente, por isso que nós estamos aqui. Daqui da minha ótica saíram técnicos bons, o Jesus tem ótica em Novo Horizonte, o Albertinho em Ibitinga, o Carlinho em Potirendaba, o meu irmão/sobrinho tinha em Rio Preto.