Conheça a história do bailarino Paulo Esteves que descobriu na arte de ensinar a sua vocação

 

Apaixonado pela dança e por suas infinitas possibilidades, Paulo Esteves nunca fez outra coisa que não fosse trabalhar os movimentos de seu corpo, já realizou infinitos cursos, fez parte de uma companhia de dança e hoje tem sua própria academia de dança. É no Studio Oito por Oito que ele passa adiante tudo que sabe sobre cada estilo que domina, é de lá que o profissional retira o seu sustento e o da família há nove anos e foi lá também que descobriu uma nova paixão: a arte de ensinar através da dança. Em uma entrevista para o Mirassol Conectada, o bailarino contou sobre como chegou até onde está.

Paulo Esteves (Foto: Priscila Beal)

 

A história da academia Oito por Oito está diretamente relacionada a paixão de Paulo Esteves pela arte de movimentar-se. Durante toda a sua vida ele teve proximidade com a dança, conheceu essa ligação por meio do popular axé e logo depois ingressou na dança de salão, segundo ele, ambos foram amor à primeira vista, ou a primeiro passo. Depois surgiu nele a necessidade de obter técnica e para adquiri-la ingressou no Ballet Clássico, modalidade que praticou dos 15 aos 21 anos.

“A única informação que eu tinha era de que técnica só se encontrava ao praticar ballet, então eu senti a necessidade de praticar porque eu queria o técnico, eu queria me especializar em dança desde que eu comecei a dançar. Foram seis anos de aulas contínuas, fora os workshops e aí depois eu comecei a praticar, buscar sozinho, em cursos, minicursos e daí vem a minha formação em ballet clássico”, conta.

Logo depois ele foi convidado a dançar em uma companhia de dança chamada “Oitavo Movimento”, que era de dança contemporânea. “A gente sabe que a dança contemporânea bebe da fonte do ballet e isso só impulsionou mais ainda a minha formação profissional na área clássica, na área erudita e acadêmica da dança.” Paulo Esteves.

Em busca de evolução, o dançarino decidiu voltar às suas origens, quis se aprofundar nas danças urbanas e passou a realizar cursos, com o objetivo de conquistar um corpo com mais balanço, totalmente ao contrário do que conquistou com o Ballet.

“Sempre gostei muito da linguagem corporal que se expressa nas danças urbanas, populares, de origem nos centros urbanos, que eram manifestados nas festas. Eu já dançava um estilo de dança urbano sem saber, que era o Axé, uma dança praiana, que vem de festas urbanas. Aí eu comecei a praticar também cursos de danças urbanas estadunidenses que é o hip Hop, house dance, locking, popping, então eu procurei fazer bastante cursos para adquirir aquele corpo que é um corpo mais balançado, totalmente ao contrário do ballet”, conta.

Mergulhando na diversidade de estilos, o dançarino descobriu algo muito importante para a sua formação: ao contrário do que aprendeu sua vida toda, técnica não se encontrava somente no ballet. “O Ballet seguia uma linha de movimento, enquanto as danças urbanas seguiam outro, cada um com a sua técnica”, completa.

Hoje, Paulo se considera um bailarino diversificado e foi após todos esses anos de cursos e formações que ele decidiu abrir ao lado de sua esposa Camila Nalli o Studio de Dança 8 por 8, que foi inaugurado em fevereiro de 2011. Inicialmente, a academia era focada na dança de salão, tanto que o ícone da academia é um casal dançando. Porém, em questão de meses o espaço foi agregando mais categorias de diferentes estilos, os primeiros foram o Axé e as Danças Urbanas e logo depois o Ballet contemporâneo.

Paulo e Camila são os proprietários do studio de dança (Foto: Juliana Elias)

 

Ao longo dos anos, o número de procuras de crianças para as aulas foi aumentando, foi quando Paulo Esteves começou a dar mais enfoque para as danças infantis. Um dos estilos mais procurados nesta categoria é o Baby Dance, que foi criado na própria academia, é baseado na dança criativa e cada aula é diferente uma da outra. “Temos o Baby Class – que é o Ballet Clássico, mas com uma metodologia voltada para a criança, metodologia essa encontrada nas aulas de dança contemporânea para adultos e temos também o estilo Baby Dance, que é um estilo de dança que a gente criou que vai muito de encontro com uma área já existente chamada Dança Criativa, na qual o enfoque do trabalho é estimular a criatividade da criança, que hoje é a menina dos olhos”, explica Paulo.

Foi com essa mudança de público que as histórias de Paulo e Camila com as crianças começaram. Após algum tempo, Paulo notou que era difícil mantê-las interessadas nas aulas por muito tempo. Foi quando ele conheceu métodos didáticos diferentes do ensino tradicional. Após muita pesquisa e prática ele começou a perceber que trazer a criança como protagonista, para o ato de ensinar também é um caminho de ensino e ele se apaixonou pelo que estava aprendendo, porque ele se via naquela situação de não conseguir ultrapassar a barreira para despertar a atenção delas. Ele se apoia no método de Maria Montessori e também de Paulo Freire.

Foto: Juliana Elias

 

“Eu também comecei a beber desse método e eu comecei a aplicar em mim mesmo, foi quando eu comecei a evoluir, que eu comecei a progredir porque essa metodologia de ensino induz o aluno a se encontrar, a se descobrir, então ele manifesta o dançarino que existe dentro dele e não fica copiando e reproduzindo, tentando chegar em uma identidade que ele tenha várias barreiras para estar chegando até lá. E isso dá muito certo com criança, porque o que eles querem é se expressar, é se manifestar”, conta.

Paulo conta que dessa etapa em diante a Oito por Oito começou a colher muitos frutos, as procuras aumentaram significativamente porque as pessoas começaram a ver que estava dando certo. “Começaram a ver que as crianças estavam aprendendo, mas não só aprendendo a dançar, mas que estavam criando autonomia, autoconfiança, auto aceitação e melhora na relação social, estavam se sociabilizando melhor e até mesmo melhorando a concentração escolar”.

O Studio de dança Oito por Oito se considera parte da educação brasileira e reflete sobre o futuro que está sendo preparado para as crianças. Seus proprietários defendem a diversidade de cada ser e por isso acreditam na evolução pessoal de cada um.

“São mentes diferentes, são pessoas que pensam diferentes e quando se trata de ideias se trata de um universo muito amplo e intuitivo. Se trata de algo abstrato e o abstrato não é um produto, não é um material. Então um dos grandes problemas da educação hoje em dia é cobrar com que todos os alunos evoluam no mesmo padrão, na mesma capacidade, quando você entende que não é bem assim, que cada criança tem o seu tempo e que a gente tem que respeitar o tempo da criança você percebe que não são todas iguais e você consegue remar de acordo com a maré dela e não do Estado, do professor ou do pai e da mãe que obriga ela a adquirir um nível que ela ainda não está apta a fazer, aquela limitação que ela tem que ela precisa superar. Então quando você entende o universo infantil, a mentalidade da criança, você acaba que curtindo porque você acaba vendo a evolução dela perante a capacidade dela e não à capacidade imposta”, finaliza Paulo Esteves.

Foto: Juliana Elias

 

“Não basta saber ler que ‘Eva viu a uva’, é preciso compreender qual a posição que Eva ocupa no seu contexto social, quem trabalha para produzir a uva e quem lucra com esse trabalho.” Patrono da educação Paulo Freire.