RESENHA: Ele Está de Volta

A história se repete, o futuro representa o passado, somos quem somos ou fingimos ser?

Ele Está de Volta apresenta essas questões políticas,sociais e filosóficas em forma de sátira. Na trama Adolf Hitler desperta no mesmo local em que ficava no seu bunker há 70 anos, mas vira um fenômeno da mídia ao ser confundido com um comediante. O filme cria um ambiente que expõe de várias formas como se tornou o pensamento alemão pós Hitler; e que os fatos históricos podem voltar a acontecer, se não como tragédia, será como farsa.

David Wnendt aplica a dosagem ideal na direção para que Oliver Masucci possa entregar seu Hitler de maneira cômica para os dias de hoje, mas que se mostrou efetiva na primeira metade do século passado. Em primeiro momento o absurdo busca chocar, o abuso de alguém se fantasiar de Hitler em um país que busca sanar uma divida histórica. Além também pelo assombro de que isso poderia acontecer e não saberíamos as consequências.

A sátira já inicia na produção do longa, quando o interprete de Hitler (Oliver Masucci) caracterizado, fez uma turnê pela Alemanha para rodar o filme. Se infiltrando em situações banais do cotidiano alemão: em praças, supermercados e parques de diversão. A abordagem e o clima começam a seguir novos rumos quando o ditador passa a entender com velocidade espantosa o mundo em que caiu de paraquedas. Ser motivo de piada e estranheza , mas ter a lugar de fala, mostra-se um fator determinante para que uma mente brilhante possa reiniciar o processo de controle de massa.

Assim começa a reinserção de uma figura mitológica na sociedade, com a narrativa batendo na tecla do projeto de marketing – em que Goebbels morreria de inveja, a atmosfera como em meados dos anos 1940 começa a se mostrar favorável a um discurso populista já conhecido. A fotografia vai ganhando tom mais soturno, fazendo da sátira o preludio para uma nova tragédia.
A historia se repete, mas não como farsa; tal como no século passado, todos o veem como um palhaço inofensivo, como uma caricatura de todos os Hitlers encenados pelo cinema, enquanto o verdadeiro ressuscitado pela trama volta ao poder por meio da TV, seguindo passo a passo as teses do seu livro Mein Kampf.

Durante o longa o Führer:”tenho um bom material de trabalho pela frente” , uma sociedade totalmente mediatizada e idiotizada. Para ele, a Direita nunca leu seu livro e skinheads não passam de fracotes. Hitler vê na TV a única novidade promissora para finalmente construir o Terceiro Reich.Com um desfecho que vai se tornando menos absurdo com o decorrer da trama, um Hitler politicamente incorreto, uma narrativa que expressa aversão a democracia moderna; o grande ditador escarra que não se alimenta ideologia sem uma sociedade que compra a sua ideia. E alerta o grande publico que a cadela do fascismo está sempre no cio.