RESENHA:Lady Bird – A Hora de Voar

Greta Gerwig, diretora e roteirista de Lady Bird – A Hora de Voar, descreveu esse filme como uma carta de amor a sua cidade natal, Sacramento. E, sabiamente, não haveria descrição melhor para seu filme. O longa é um coming-of-age – história que foca na passagem da adolescência pra juventude – que faz de sua localização não um plano de fundo, mas uma personagem central da história.
Na jornada de amadurecimento de Christine “Lady Bird” McPherson (Saoirse Ronan), Gerwig constrói a sua marca como autora. Com uma história parcialmente autobiográfica, a diretora deixa pequenos pedaços de si mesma ao longo do filme, o que estabelece uma autenticidade impossível de ser emulada. São detalhes que preenchem cenas e diálogos para retratar com exatidão o processo da saída da adolescência e entrada na vida adulta no início dos anos 2000.
O roteiro navega por águas cotidianas, tragando o telespectador para o universo egoísta de Lady Bird. Diálogos intensos, que dão a sensação de familiaridade. Gerwig consegue trazer a sutileza de problemas do cotidiano familiar sem apelar para tramas complexas – viver já é suficientemente complexo.
Saoirse – indicada ao Oscar pelo papel, enche a tela com regularidade dentro de toda a metamorfose da personagem. Traça o itinerário de Lady como uma maquinista que não tem o controle do seu trem, intensa ao ponto de se jogar do carro, e dócil na transparecia de sentimentos.
Sentimentos esses que são interligados com a figura da mãe interpretada por Laurie Metcalf, é o pé no chão que a sonhadora garota insiste em renegar. Como tantas mães, ela é responsável por trazer a protagonista para o mundo real, não por pessimismo e nem por falta de amor e confiança na filha, mas para evitar que ela sofra com frustrações. Estudando em um colégio católico caro como bolsista, “Lady Bird” tem acesso a sonhos e expectativas que não correspondem à realidade socioeconômica de sua família. Mas os conflitos fazem a garota não se sentir amada nem compreendida por sua mãe, o que leva a mais brigas e crises: a relação das duas, entre choros e gritos, é real e visceral. No fim, nenhuma delas está totalmente certa ou errada, e as atitudes ponderadas do pai (Tracy Letts), que tenta equilibrar essa relação, provam isso.
“Lady Bird” é sobre amadurecimento, a protagonista é relatada com humanidade precisa – o roteiro toma conta disso com delicadeza. Lady não é perfeita, comete os erros que tem que cometer, mas aprende com eles. Aprendizado e valorização da família são legados que Christine só aprende na prática – como a grande maioria dos adolescentes. No fim, a vida abre azas pra Lady voar – ao contrário do que ela temia, voar e permanecer.